Valores que o dinheiro não pode comprar

 

Michael Sandel é um renomado filósofo de Harvard, uma das pessoas mais influentes daquela universidade. Ele discorda de muitos conceitos atuais de mercado. Suas teorias dizem que nem tudo tem preço. Para exemplificar ele conta a seguinte história: Diz-se que tempos atrás em um país do Oriente tinha uma pessoa vendendo ovos de galinha com uma etiqueta que dizia: “Estes ovos vão deixar vocês tão inteligentes quanto os alunos de Harvard”. O problema foi usar indevidamente o nome da universidade. Para evitar novas ocorrências do mesmo problema, entendeu-se que deveria registrar a marca “Harvard”. E assim foi feito. Então, lançada a marca, com o tempo foi sendo lançada uma linha de produtos com o honroso emblema da universidade; agora se podia comprar calças, camisas e outras vestimentas com o famoso nome. A objeção de Michael Sandel é: Como um símbolo mundial do conhecimento pode ser precificado? Como se pode transformar algo tão significativo em um produto? Ele explica que nós estávamos saindo de uma economia de mercado (atividades econômicas) para uma sociedade de mercado, onde tudo pode ser comercializado.

Existem algumas coisas que não podem ter preço ou serem vendidas. Em seu livro O que o dinheiro não compra, Michael Sandel fala do tema da barriga de aluguel e da venda de sêmen. Como algo tão sublime quanto a gestação de uma vida pode ser vendido? Ou como alguém pode vender sêmen?

O mercado teria de ter limites. Se alguém quer engravidar e não pode, o empréstimo da barriga de outra pessoa não poderia ser cobrado, pois a vida não é um produto de mercado. Nem valores e nem atitudes. Na China existem pessoas especializadas em pedir perdão, ou seja: se precisar, pague a um profissional que vai se desculpar em seu lugar!

De todas as formas estão surgindo serviços e maneiras de ganhar dinheiro. A sociedade está virando um grande negócio, e os conceitos de mercado estão entrando em áreas onde não poderiam subsistir. Muitas pessoas estão à procura de modos de ganhar dinheiro. Muitos andam pelas ruas procurando oportunidades: ser original, inventar um novo mercado. A grande questão é: quando tudo se volta para o dinheiro, ele vira o ator principal da vida e todos de uma forma ou de outra estão focados nele.

Vocês dizem: ‘É inútil servir a Deus. O que ganhamos quando obedecemos aos seus preceitos e andamos lamentando diante do Senhor dos Exércitos? (Malaquias 3: 14)

De uns tempos para cá, esse conceito de mercado tem invadido as igrejas e os ministérios. Os membros veem a igreja e seus serviços como forma de ganhar dinheiro. Isso é ter a visão de Deus como um pai rico que é obrigado a dar. Esse foi o entendimento do filho pródigo: ele é rico e eu quero o meu dinheiro. Trabalhar de coração, servir com alegria, honrar a Deus tem sido colocado em segundo lugar. A prioridade, para muitos, é prosperar! Não é errado pensar nessas coisas: ganhar mais e ter uma vida melhor. O problema é quando se abandona conceitos como fidelidade (se a atitude é tomada somente pensando em ganhar, não é fidelidade) e misericórdia (de coração) para pensar apenas na recompensa. A igreja deixa de ser uma família para se tornar uma empresa.

Algumas pessoas só pagam o dízimo e ofertam pensando no que podem ganhar com isso, como serão recompensadas. Sua atitude não é de honra e gratidão a Deus, mas um investimento que lhes trará grande retorno. Usam o ministério para fazer contatos comerciais, galgar degraus na sociedade e conseguir algo; usam o serviço a Deus indevidamente.

Nos últimos anos surgiram os promoters de eventos com artistas gospel conhecidos. Alguns já não aceitam ofertas e preferem cachês (alguns com razão, devido aos altos custos com equipe e equipamentos). A questão está em abandonar valores preferindo o dinheiro. O filósofo citado acima diz que onde o dinheiro é estimado os valores são preteridos. A honra é trocada por dinheiro, a comunhão é trocada por dinheiro, o amor é trocado por dinheiro, o espiritual é trocado pelo físico: em vez de desejar que Deus encha a sua casa de paz e alegria, é melhor que ele lhe dê um carro novo; em vez de buscar a Presença de Deus, prefere-se buscar a presença de recursos financeiros; em vez de buscar a maturidade espiritual, considera-se melhor a independência financeira. Os valores se perdem com o tempo e são trocados por ganhos desonestos.

“Dinheiro não pode comprar valores eternos.”

No livro de Malaquias, a reclamação de Deus é essa: as pessoas estão querendo saber o que ganham quando servem ao Senhor? O que se ganha quando se faz o certo? Qual a recompensa da obediência? O relacionamento daquelas pessoas com Deus tinha por fim ganhar algo; ter Deus próximo não lhes era suficiente, queriam ganhos óbvios, uma recompensa para agir corretamente.

Lembro-me de que, quando eu era criança, minha mãe dizia que eu só aceitava cortar o cabelo se ela me pagasse por isso. É que eu tinha interesse em comprar balinhas na padaria ao lado da barbearia, então ela devia me pagar ou eu ficava cabeludo mesmo! Alguns meses atrás levamos o nosso filho a uma gastropediatra para acompanhamento, e uma parte de nossa conversa foi assim:

– Quando o seu filho come corretamente, você o recompensa? – ela perguntou.

– Sim – respondi.

– Quando ele dorme cedo, você o recompensa?

– Sim.

– Está errado, ele não está fazendo mais que a sua obrigação. Se agir assim, ele vai entender que deve receber algo todas as vezes que fizer o correto. Ele deve entender que deve fazer o correto e não precisa receber nada por isso.

Devemos fazer o correto sem visar ganhar com isso, ter o foco em valores como honra, justiça, misericórdia, perdão, amor, amabilidade, bondade, fidelidade, servir, entre outros. Quando se valoriza muito o dinheiro, esses valores são desprezados e substituídos pela prosperidade financeira. Grande prejuízo ocorrerá nas almas daquele que adere a esse sistema.

 

Moisés Nogueira de Faria
Trecho do meu livro “Misericórdia”

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